sábado, 27 de fevereiro de 2010

Burning Fog


Quero trazer-te para o meu nevoeiro
Enrolar-me em sangue de violetas
Lamber-te a pele de veias acesas
Milímetro a milímetro respirar o teu cheiro.

Traz-me rosas amarelas
Deixa-me tonta, lívida, perdida
Mas tira-me as dúvidas
Enche-me de vida.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A angústia é uma droga dura

 

Devolve-me o meu oleado amarelo. Não é que eu não goste de passear de galochas vermelhas com bolas brancas e lingerie beringela, debaixo do jacarandá que larga cola e fica ali mesmo junto à tua janela. Mas, além da senhora de bata disforme, que já perdeu a cor há muito tempo, e me olha de través, há também a questão estética. Sabes, já to disse há muito tempo, que sou insuportavelmente perfeccionista e, eu sei, sinto-o no âmago da minha alma, fico incompleta neste quadro sem o meu oleado amarelo.
Ah! Sim, já agora...
Pronto, sei, sim já sei que estou a abusar, mas podias devolver-me aquele desumidificador...
Não, não é aquele eléctrico que compraste a vinte e quatro prestações e que provocou um curto circuito no prédio, porque nunca lhe tiravas a água que se acumulava no depósito e o teimoso do senhorio nunca chegou realmente a perceber as explicações que lhe dei, sobre a importância das tomadas de terra. Não meu querido, eu estou a falar daquela caixinha verde pistachio que comprei no jumbo e guardei na gavetinha, sem puxador (que tínhamos que abrir com faca), da mesa de cabeceira. Aquele que acumulava água na matéria que tinha lá dentro (sim, sei que me explicaste dezenas de vezes o que era aquilo e a razão científica porque absorvia a humidade, mas realmente nunca quis saber e continuo a não querer). Pois, eu sei que já não funciona, mas gosto do impacto que a cor pardacenta e misteriosa do bolor em contraste com o pistachio provoca no conjunto. Refiro-me obviamente ao conjunto estético.
Percebes, claro, a importância dos pormenores na minha vida, foi por nunca os veres, nem reparares que eles existiam que nós criámos, ou melhor tranformámos o conceito de solidão acompanhada, em vidas paralelas incoerentes e incompreensíveis, que tinham por vezes umas tangentes.
Refiro-me, parece-me óbvio, à percepção da polarização dos raios de sol ao crepúsculo e ao sexo.
Podes ficar, não, quer dizer, não é podes, gostava muito que ficasses com o guarda-chuva transparente que tem o desenho do snoopy acometido de um ataque de pânico, por ter acordado ao lado do woodstock num dia de ressaca cinzenta. Acho que a marquise ficaria desoladamente abandonada sem ele. Para além disso, sabes também, como o bonsai desenvolveu, desde que o pusemos dentro do tanque debaixo do guarda-chuva. Há energias nas quais não devemos realmente tocar, nem transformar. Sei que os meus conhecimentos nulos de feng shui sempre ofenderam a tua sensibilidade, mas acho que este conceito intuitivo, não estará de todo errado e, respeita-o por favor, em nome do ruido de fundo das tardes de tangentes perfeitas.
Já agora, não te esqueças de limpar a ferrugem do arame da roupa. Nunca to disse, eu sei, mas só eu é que acho que as manchas amarelas dão um ar misterioso e carismático às tuas camisas verde tropa desbotado.
Olha, tenho de ir, voltaram estes senhores de bata branca, que me vêem sempre buscar quando venho passear de galochas e lingerie à tua janela. Já lhes expliquei que tu gostas e que se pudesses já me tinhas devolvido o oleado amarelo, mas que nem sempre é fácil descer da nuvem para onde foste viver, já há três anos. Mas deixa, também não consigo zangar-me. Eles são medianamente simpáticos e dão-me, sem eu pedir, aqueles comprimidos que eu implorava à médica de família, que me faziam sentir em paz com o mundo e me devolviam o sorriso e a serenidade. Lembras-te como ficavas feliz por me ver assim, até me levavas outra vez contigo aos jantares da administração do banco.Sim, como antes, antes quando eu ainda não baralhava os eventos do teu trabalho com as festas de trance em que os cogumelos e as luzes me fazim sentir viva.E eu, nem um copo de vinho bebia nesses jantares, como tu me tinhas pedido.
Olha tenho mesmo que ir, hoje afinal deram-me uma injecção e não consigo manter os olhos abertos.
Deixa estar, é mais fácil para mim ir ter contigo à nunvem durante os sonhos.
Até já meu amor, acho que se não fossemos daltónicos, ainda hoje viveríamos naquela marquise encantada.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Summer Snow


Não sei que te diga
Há um nevoeiro leve
Que cheira a mentira
Sim já sei, tu querias a neve
Nunca te chega o ténue
Nem a percepção palpável
Dos segredos indizíveis do vento.
Volta e enrola-me
No abafado nostálgico
Das abas do teu sobretudo
Em tons de cinzento gato azarento.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Visto - Invictus

 

 A ideia da parábola com o rugby é muito boa, os actores são bons, o Clint é óptimo, o filme não presta.
É uma americanada negligente, sobre um tema demasiado nobre. Faz falta África, faz falta Europa.

A propósito do Valentim que já passou (e a que eu nem acho muita graça porque nós temos o dia de Santo António)

Estou farta, cansada, exausta, do amor lúcido, às prestações, com horário  e razão.
Eu faço dieta, corto no cartão de crédito, até posso tentar chegar a horas ao trabalho.
Mas não me obriguem a amar com tento e cálculo, sem loucura e sem dor
sem imensa saudade e alguma ansiedade.
Não é justo, não está certo, é contraproducente, é disparate, é burrice e é
MEDO MEDO MEDO!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ritual

 
Tens um sininho verde nos olhos
Que levanta a curva do meu sorriso
Até ao infinito
Dos meus passos de dança contigo.

Os meus lábios foram talhados na pedra
Junto aos teus
Deu-lhes vida um vento do norte
Quando se voltam a juntar
Há uma tonteria de perfeição
Deslizo os joelhos perto do que em ti é altar
Perco o pé e passa rasteiro junto ao chão
Um vento diferente, suave e forte
Sinto-o entre os cabelos perdidos na tua mão
Húmido, quente e louco
Voltámos, meu amor,
A invocar o siroco.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amitié



Na sombra do desamor
Há risos de cumplicidade e dor
Gosto de partilhar o torpor
Afastar com promessas de olhar, o horror.

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