quinta-feira, 25 de março de 2010

Joie de vivre


Tive pérolas, às centenas
No pescoço, nas orelhas, nos dedos
E até no umbigo
Mas há sempre
Esta alma inquieta e pouco amena
Que me faz
Sentir que viver é ter os sentidos acesos
Ouvir o vento contar-me segredos antigos
Há sempre
Uns olhos risonhos por trás da melena
Uma mesa em frente ao mar
E vontade sem medos
Cheiros intensos com sabores ariscos
Que me fazem trocar fortuna e pérolas
Por alegria, vinho branco e ostras.

terça-feira, 16 de março de 2010

Rumos I - Ao meu cavalo alado


Dou-te o leme
De rotas nada sei
Deixa comigo as velas
Que o barco não treme
Porque do vento eu conheço a lei
E , já o sabes, gosto de cavalos sem selas.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Nós as mulheres somos um mundo maravilhoso

Atropelamento

Na ambulância-

Moço do INEM: Vou-lhe tirar a botinha e a meinha, pode ser?

Eu: Não posso acreditar o carro estragou-me o verniz!

Moça do INEM (enquanto conduzia ambulância com muita destreza): Óh que chatice! Se calhar tinha pintado há pouco tempo não?

Se conseguisse tinha ido lá à frente dar-lhe um beijo!
De reconhecer também, que não havendo cadeira de rodas o moço tirou-me da ambulância ao colo.

domingo, 14 de março de 2010

Sorriso de âmbar


O corpo existe
Mesmo quando está triste

O fim da inocência
Não cessa a urgência

O empedernir da ilusão
Não cala a fome da emoção

O amanhecer cinzento
Não impede o crepúsculo violento

A frieza de salões de tradição pesada
Não mata a paixão de vão de escada

Cresce a dúvida por fim
Quando, inconsciente, o sorriso
Nasce com trejeito de sim.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Raio de Luz Bola de Sabão Rocha Firme e Perene

 

Pesam-me os dedos na tecla, o que aliás é uma novidade, já que, tenho o vício ancestral de escrever primeiro com uma caneta que deslize suavemente num caderninho de folhas brancas que cheire a papel e que tenha de preferência uma textura rugosa. Mas há dias em que batemos no fundo e em que até as longas batalhas e as idiossincrasias deixam de fazer sentido.
O que nos move na vida quando a vida não nos move?
Tenho a cabeça encostada ao vidro da janela no gesto dos desesperados que esperam o milagre de que sem esforço lhes entre pela janela o arrebatamento de viver. Como, óbvio, nada sucede, deixo a mente aberta e divago, espero pela invasão de imagens quase palpáveis que me podiam devolver o brilho do olhar e envolve-me devagar a decadência dum parque de estacionamento ao fim do dia, junto a um centro comercial do início dos anos noventa que tão rapidamente ficou decrépito. Eu encostada ao meu carro, tu ao teu. A conversa corre mole e sem sentido com o sabor doce que podem ter as conversas sobre quais as pastilhas actuais que têm o sabor mais aproximado das super gorila e a dúvida pertinente se vamos ver artigos interessantes à loja chinesa ou se nos arrastamos até à cave bafienta e malcheirosa para jogar snooker, ou, até, quem sabe, que intrépidos estamos hoje, descer até ao café da praia e ver um jogo de futebol. Até no clube de futebol tinhas que ser esquisitinho e torcer por aquela coisa azuloca e sobranceira. Beber imperiais, sendo a parte importante os amendoins pelos quais vamos ter que lutar ferozmente, ou seja esperar que o empregado se desencoste do balcão com um ar lânguido e pesaroso e se digne a trazer-nos os nossos troféus torraditos, mais para o queimado que nos vão saber bem demais.
A seguir até podemos comprar o jornal e eu deixo que tu fiques a vociferar indignado contra a minha revolta anacrónica e esquerdelha de menina bem que não faz ideia do que significa ter dificuldades na vida. Tão reaccionário e conservador e teimoso tu consegues ser às vezes, porque também não fazes ideia da realidade a que me refiro.
Tantas vezes eu te pedi que não me tratasses como um dos rapazes, tantas vezes eu te expliquei que não era um puto da tua rua, para chegar ao momento actual e me correrem lágrimas de saudade e ter que morder os dedos para não te telefonar a convidar para um concurso “a ver quem é que consegue atirar a casca do tremoço mais longe”.
Fazes-me tanta falta Amigo!
(Janeiro 2006)

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quarta-feira, 3 de março de 2010

Quimera Amarga

 

Pesa-me o penteado de oiro e brocado
Dói-me a cabeça do aperto da tiara
Talvez se tirar o meu vestido
Veja o teu olhar mais focado
E até se, de repente, sem aviso
Ficar descalça, enrolada em trigo
Consiga um ligeiro brilho
Um relâmpago de desejo
Ver surgir na tua cara
Um sorriso um pouco mais que amargo.

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