quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Delírios muito conscientes


Amoras silvestres, figos maduros, gatos de patinhas fofas enroladas e olhares de pinga-amor matreiros. Adrenalina de viver as coisas rotineiras, sardinhas e frango assado na feira popular,o Tejo na madrugada de Lisboa, noites ganhas com conversas perdidas e mornas. Bares que são mais casa que a nossa, noites de assento no chão e mini na mão,amizades de amores mais fortes e imensas que qualquer paixão intensa. Decadência com elegância, glamour sem pinderiquice, a classe da imensa simplicidade. Empatia, subtileza, sarcasmo com ternura, carinho sem censura. Enfim saudades de mim e dos que mais que meus são parte de mim. De sangue ou não sangue, correm-me na corrente sanguínea.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Dark Blood




Dentro da tua boca
Há um fogo azul chicote
Com sabor de amoras rasgadas
Acompanhadas
De um tinto suave e forte.

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Bebi a água da chuva

Deixem-me em paz por favor
Ouçam o vento, façam silêncio
Estrangulem a voz, calem a dor
Brinquem às aparências, façam longe a festa.

Não estou para ninguém
Aqueles para quem estava
E de quem precisava
Foram...deixá-los ir,
não quero a tua mão na minha testa!

Quero um cavalo sem sela
Um sol que arda
Deitar-me entre os camaleões
As cobras e os escorpiões.

Quero olhar-te com ódio puro
Queimar-te com a chama intensa
Sentir a altivez da indiferença
Cuspir que te esconjuro.

Já guardei a faca entre as calças e a pele
Invoquei a alma cigana
Fica com o vestido rosa e capa em tons pastel
Guarda o calor da minha roupa,
Que eu vou dormir nua à sombra da iguana.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Sangue azulado de vermelho



Eu sei que sou um dos últimos rastos da tua pureza
E tu sabes amor, que só para ti, eu sou princesa
Fica em paz meu príncipe que eu deixo a candeia acesa
E todos os dias faço o secreto ritual sobre a mesa

Tens medo de na luta mesquinha
Te perderes no cinzento do tédio
Mas desconfias do perigo que se avizinha
E viste nos sonhos o teu império

Não precisas de me mostrar o caminho que sempre fiz
Guardo-te a chave da alma e a força pura de mago aprendiz
Estou à porta do teu castelo, ninguém passa a zona de sangue e giz

Todos sabem o que acontece a quem tenta fazer-te infeliz
Todos sabem do que é capaz a espada da imperatriz.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Assim como as lebres


Tonta, tonta que tu és menina, não sabes, não te avisaram já? Eles quando querem vão lá e se andarem atrás deles  fogem como as lebres. Podem ficar uns momentos quietinhos a olhar para ti encantados, por uns segredos e mistérios que as mulheres sempre vão ter para eles. Assim como as lebres ficam uns segundos imóveis encadeadas pelos faróis, mas, a seguir desaparecem na noite, velozes e inconstantes, eles e as lebres.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Silvo de Prata



Se fosse azul
Era cinzento
Se fosse rosa
Era ferrugem

Mas é da cor da dor
Da falta do meu amor

Tom de lástima
Som de lágrima.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Confesso


És contas

de rosário antigo

que deslizam

pelo céu da minha boca

com sabor

de pecado não nomeado.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Gota a Gota

Hoje só me lembro de gotas.
Aquela citação - zen? do copo cheio que, se leva mais uma gota transborda. A música do Chico que a minha mãe ouvia vezes sem conta há muitos anos, quando para mim, os sons e as sensações, os cheiros e a as energias faziam todos parte da mesma amálgama.Só o sabor do amargo ficou mais prolongado, como o âmbar que derrete milhares de anos depois, denso e pesado, quase incapaz de deslizar.
Do meu cabelo e pescoço e costas com chuva de gotas, porque o teu beijo foi tão intenso que que me debrucei sobre a fonte pequenina e só dei por isso já bem depois - o arrepio que vinha de ti era muito mais intenso do que o da água gelada. Lembras-te? Eram aquelas fontes pequeninas de quando o Jardim de S. Pedro de Alcântara tinha uma beleza decadente que me encantava. Tinha lodo e folhas espalhadas, restos de filtros e campo de basquete. Não era aquela coisa clean, civilizada e sem paixão que é agora.
Gotas minhas e tuas que se misturam nos fins de tarde. Lá fora a Primavera tarda, cá dentro os trópicos nunca passaram. Não deixes agora  o frio minimalista entrar no meu quarto, sabes que sou barroca, tresloucada e estou desalmadamente desejosa da primeira chuva de verão contigo. De preferência muito perto das figueiras.
Nas histórias modernas são sempre os princípes a terem de ser acordados.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Joie de vivre


Tive pérolas, às centenas
No pescoço, nas orelhas, nos dedos
E até no umbigo
Mas há sempre
Esta alma inquieta e pouco amena
Que me faz
Sentir que viver é ter os sentidos acesos
Ouvir o vento contar-me segredos antigos
Há sempre
Uns olhos risonhos por trás da melena
Uma mesa em frente ao mar
E vontade sem medos
Cheiros intensos com sabores ariscos
Que me fazem trocar fortuna e pérolas
Por alegria, vinho branco e ostras.

terça-feira, 16 de março de 2010

Rumos I - Ao meu cavalo alado


Dou-te o leme
De rotas nada sei
Deixa comigo as velas
Que o barco não treme
Porque do vento eu conheço a lei
E , já o sabes, gosto de cavalos sem selas.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Nós as mulheres somos um mundo maravilhoso

Atropelamento

Na ambulância-

Moço do INEM: Vou-lhe tirar a botinha e a meinha, pode ser?

Eu: Não posso acreditar o carro estragou-me o verniz!

Moça do INEM (enquanto conduzia ambulância com muita destreza): Óh que chatice! Se calhar tinha pintado há pouco tempo não?

Se conseguisse tinha ido lá à frente dar-lhe um beijo!
De reconhecer também, que não havendo cadeira de rodas o moço tirou-me da ambulância ao colo.

domingo, 14 de março de 2010

Sorriso de âmbar


O corpo existe
Mesmo quando está triste

O fim da inocência
Não cessa a urgência

O empedernir da ilusão
Não cala a fome da emoção

O amanhecer cinzento
Não impede o crepúsculo violento

A frieza de salões de tradição pesada
Não mata a paixão de vão de escada

Cresce a dúvida por fim
Quando, inconsciente, o sorriso
Nasce com trejeito de sim.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Raio de Luz Bola de Sabão Rocha Firme e Perene

 

Pesam-me os dedos na tecla, o que aliás é uma novidade, já que, tenho o vício ancestral de escrever primeiro com uma caneta que deslize suavemente num caderninho de folhas brancas que cheire a papel e que tenha de preferência uma textura rugosa. Mas há dias em que batemos no fundo e em que até as longas batalhas e as idiossincrasias deixam de fazer sentido.
O que nos move na vida quando a vida não nos move?
Tenho a cabeça encostada ao vidro da janela no gesto dos desesperados que esperam o milagre de que sem esforço lhes entre pela janela o arrebatamento de viver. Como, óbvio, nada sucede, deixo a mente aberta e divago, espero pela invasão de imagens quase palpáveis que me podiam devolver o brilho do olhar e envolve-me devagar a decadência dum parque de estacionamento ao fim do dia, junto a um centro comercial do início dos anos noventa que tão rapidamente ficou decrépito. Eu encostada ao meu carro, tu ao teu. A conversa corre mole e sem sentido com o sabor doce que podem ter as conversas sobre quais as pastilhas actuais que têm o sabor mais aproximado das super gorila e a dúvida pertinente se vamos ver artigos interessantes à loja chinesa ou se nos arrastamos até à cave bafienta e malcheirosa para jogar snooker, ou, até, quem sabe, que intrépidos estamos hoje, descer até ao café da praia e ver um jogo de futebol. Até no clube de futebol tinhas que ser esquisitinho e torcer por aquela coisa azuloca e sobranceira. Beber imperiais, sendo a parte importante os amendoins pelos quais vamos ter que lutar ferozmente, ou seja esperar que o empregado se desencoste do balcão com um ar lânguido e pesaroso e se digne a trazer-nos os nossos troféus torraditos, mais para o queimado que nos vão saber bem demais.
A seguir até podemos comprar o jornal e eu deixo que tu fiques a vociferar indignado contra a minha revolta anacrónica e esquerdelha de menina bem que não faz ideia do que significa ter dificuldades na vida. Tão reaccionário e conservador e teimoso tu consegues ser às vezes, porque também não fazes ideia da realidade a que me refiro.
Tantas vezes eu te pedi que não me tratasses como um dos rapazes, tantas vezes eu te expliquei que não era um puto da tua rua, para chegar ao momento actual e me correrem lágrimas de saudade e ter que morder os dedos para não te telefonar a convidar para um concurso “a ver quem é que consegue atirar a casca do tremoço mais longe”.
Fazes-me tanta falta Amigo!
(Janeiro 2006)

Lista de compras

quarta-feira, 3 de março de 2010

Quimera Amarga

 

Pesa-me o penteado de oiro e brocado
Dói-me a cabeça do aperto da tiara
Talvez se tirar o meu vestido
Veja o teu olhar mais focado
E até se, de repente, sem aviso
Ficar descalça, enrolada em trigo
Consiga um ligeiro brilho
Um relâmpago de desejo
Ver surgir na tua cara
Um sorriso um pouco mais que amargo.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Burning Fog


Quero trazer-te para o meu nevoeiro
Enrolar-me em sangue de violetas
Lamber-te a pele de veias acesas
Milímetro a milímetro respirar o teu cheiro.

Traz-me rosas amarelas
Deixa-me tonta, lívida, perdida
Mas tira-me as dúvidas
Enche-me de vida.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

A angústia é uma droga dura

 

Devolve-me o meu oleado amarelo. Não é que eu não goste de passear de galochas vermelhas com bolas brancas e lingerie beringela, debaixo do jacarandá que larga cola e fica ali mesmo junto à tua janela. Mas, além da senhora de bata disforme, que já perdeu a cor há muito tempo, e me olha de través, há também a questão estética. Sabes, já to disse há muito tempo, que sou insuportavelmente perfeccionista e, eu sei, sinto-o no âmago da minha alma, fico incompleta neste quadro sem o meu oleado amarelo.
Ah! Sim, já agora...
Pronto, sei, sim já sei que estou a abusar, mas podias devolver-me aquele desumidificador...
Não, não é aquele eléctrico que compraste a vinte e quatro prestações e que provocou um curto circuito no prédio, porque nunca lhe tiravas a água que se acumulava no depósito e o teimoso do senhorio nunca chegou realmente a perceber as explicações que lhe dei, sobre a importância das tomadas de terra. Não meu querido, eu estou a falar daquela caixinha verde pistachio que comprei no jumbo e guardei na gavetinha, sem puxador (que tínhamos que abrir com faca), da mesa de cabeceira. Aquele que acumulava água na matéria que tinha lá dentro (sim, sei que me explicaste dezenas de vezes o que era aquilo e a razão científica porque absorvia a humidade, mas realmente nunca quis saber e continuo a não querer). Pois, eu sei que já não funciona, mas gosto do impacto que a cor pardacenta e misteriosa do bolor em contraste com o pistachio provoca no conjunto. Refiro-me obviamente ao conjunto estético.
Percebes, claro, a importância dos pormenores na minha vida, foi por nunca os veres, nem reparares que eles existiam que nós criámos, ou melhor tranformámos o conceito de solidão acompanhada, em vidas paralelas incoerentes e incompreensíveis, que tinham por vezes umas tangentes.
Refiro-me, parece-me óbvio, à percepção da polarização dos raios de sol ao crepúsculo e ao sexo.
Podes ficar, não, quer dizer, não é podes, gostava muito que ficasses com o guarda-chuva transparente que tem o desenho do snoopy acometido de um ataque de pânico, por ter acordado ao lado do woodstock num dia de ressaca cinzenta. Acho que a marquise ficaria desoladamente abandonada sem ele. Para além disso, sabes também, como o bonsai desenvolveu, desde que o pusemos dentro do tanque debaixo do guarda-chuva. Há energias nas quais não devemos realmente tocar, nem transformar. Sei que os meus conhecimentos nulos de feng shui sempre ofenderam a tua sensibilidade, mas acho que este conceito intuitivo, não estará de todo errado e, respeita-o por favor, em nome do ruido de fundo das tardes de tangentes perfeitas.
Já agora, não te esqueças de limpar a ferrugem do arame da roupa. Nunca to disse, eu sei, mas só eu é que acho que as manchas amarelas dão um ar misterioso e carismático às tuas camisas verde tropa desbotado.
Olha, tenho de ir, voltaram estes senhores de bata branca, que me vêem sempre buscar quando venho passear de galochas e lingerie à tua janela. Já lhes expliquei que tu gostas e que se pudesses já me tinhas devolvido o oleado amarelo, mas que nem sempre é fácil descer da nuvem para onde foste viver, já há três anos. Mas deixa, também não consigo zangar-me. Eles são medianamente simpáticos e dão-me, sem eu pedir, aqueles comprimidos que eu implorava à médica de família, que me faziam sentir em paz com o mundo e me devolviam o sorriso e a serenidade. Lembras-te como ficavas feliz por me ver assim, até me levavas outra vez contigo aos jantares da administração do banco.Sim, como antes, antes quando eu ainda não baralhava os eventos do teu trabalho com as festas de trance em que os cogumelos e as luzes me fazim sentir viva.E eu, nem um copo de vinho bebia nesses jantares, como tu me tinhas pedido.
Olha tenho mesmo que ir, hoje afinal deram-me uma injecção e não consigo manter os olhos abertos.
Deixa estar, é mais fácil para mim ir ter contigo à nunvem durante os sonhos.
Até já meu amor, acho que se não fossemos daltónicos, ainda hoje viveríamos naquela marquise encantada.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Summer Snow


Não sei que te diga
Há um nevoeiro leve
Que cheira a mentira
Sim já sei, tu querias a neve
Nunca te chega o ténue
Nem a percepção palpável
Dos segredos indizíveis do vento.
Volta e enrola-me
No abafado nostálgico
Das abas do teu sobretudo
Em tons de cinzento gato azarento.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Visto - Invictus

 

 A ideia da parábola com o rugby é muito boa, os actores são bons, o Clint é óptimo, o filme não presta.
É uma americanada negligente, sobre um tema demasiado nobre. Faz falta África, faz falta Europa.

A propósito do Valentim que já passou (e a que eu nem acho muita graça porque nós temos o dia de Santo António)

Estou farta, cansada, exausta, do amor lúcido, às prestações, com horário  e razão.
Eu faço dieta, corto no cartão de crédito, até posso tentar chegar a horas ao trabalho.
Mas não me obriguem a amar com tento e cálculo, sem loucura e sem dor
sem imensa saudade e alguma ansiedade.
Não é justo, não está certo, é contraproducente, é disparate, é burrice e é
MEDO MEDO MEDO!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Ritual

 
Tens um sininho verde nos olhos
Que levanta a curva do meu sorriso
Até ao infinito
Dos meus passos de dança contigo.

Os meus lábios foram talhados na pedra
Junto aos teus
Deu-lhes vida um vento do norte
Quando se voltam a juntar
Há uma tonteria de perfeição
Deslizo os joelhos perto do que em ti é altar
Perco o pé e passa rasteiro junto ao chão
Um vento diferente, suave e forte
Sinto-o entre os cabelos perdidos na tua mão
Húmido, quente e louco
Voltámos, meu amor,
A invocar o siroco.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Amitié



Na sombra do desamor
Há risos de cumplicidade e dor
Gosto de partilhar o torpor
Afastar com promessas de olhar, o horror.

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